Um mito
é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra,
dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do
mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças,
das guerras, do poder, etc.). Expressa,
através do seu poder criativo, como as coisas passaram a existir, a sua origem. Apesar de se constituir como uma criação, ele
não pode ser interpretado como uma simples invenção, uma ficção, uma fábula ou
algo parecido. A sua finalidade é representar, por meio de uma linguagem
simbólica, a realidade do mundo humano. É marcado por um forte simbolismo, por
uma forma de expressão até mesmo literária. Muitos mitos são transmitidos
através das epopéias cuja poesia expressa o mundo poético do povo grego.
O mito na Filosofia
para os pensadores que se preocupam em responder racionalmente aos
grandes interrogativos da nossa existência (quem somos? de onde viemos? para
onde vamos? por que vivemos?), o mito é visto como uma forma metafórica de
conhecimento da realidade, uma alegoria que procura explicar de uma forma
concreta, plástica, o que é transcendental, pois não está ao alcance da nossa
inteligência. Assim o filósofo Platão,
pelo "mito da caverna", explica as várias fases do conhecimento
através de uma alegoria: o homem, que sai de uma caverna obscura e passa por
diversos graus de sombra, penumbra e luz até poder olhar diretamente o Sol,
representa a passagem do conhecimento do mundo físico para o mundo das idéias:
da doxa, conhecimento sensível, empírico, da opinião comum, através da diánoia,
conhecimento discursivo, evolutivo, se chega à noésis, evidência puramente
intelectual.
Na
cultura ocidental, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes
que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é
uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e
confiabilidade da pessoa do narrador, pois acredita-se que o poeta é um
escolhido dos deuses, que consegue enxergar os acontecimentos passados e ver a
origem de todos os seres e de todas as coisas.
Já na Narratologia,
o vocábulo "mito" é tomado como elemento estrutural do texto
literário, distinguindo-se o mito religioso, que implica numa crença cultivada
por um grupo social e que está na base das várias mitologias, do mito
artístico, que é uma história fantasiada por um poeta.
Mito da caverna de Platão
A narrativa expressa dramaticamente a imagem de
prisioneiros que desde o nascimento são acorrentados no interior de uma caverna
de modo que olhem somente para uma parede iluminada por uma fogueira. Essa
ilumina um palco onde estátuas dos seres como homem, planta, animais etc. são
manipuladas, como que representando o cotidiano desses seres. No entanto, as
sombras das estátuas são projetadas na parede, sendo a única imagem que aqueles
prisioneiros conseguem enxergar. Com o correr do tempo, os homens dão nomes a
essas sombras (tal como nós damos às coisas) e também à regularidade de aparições
destas. Os prisioneiros fazem, inclusive, torneios para se gabarem, se
vangloriarem a quem acertar as corretas denominações e regularidades.
Imaginemos agora que um destes prisioneiros é forçado
a sair das amarras e vasculhar o interior da caverna. Ele veria que o que
permitia a visão era a fogueira e que na verdade, os seres reais eram as
estátuas e não as sombras. Perceberia que passou a vida inteira julgando apenas
sombras e ilusões, desconhecendo a verdade, isto é, estando afastado da verdadeira
realidade. Mas imaginemos ainda que esse mesmo prisioneiro fosse arrastado para
fora da caverna. Ao sair, a luz do sol ofuscaria sua visão imediatamente e só
depois de muito habituar-se com a nova realidade, poderia voltar a enxergar as
maravilhas dos seres fora da caverna. Não demoraria a perceber que aqueles
seres tinham mais qualidades do que as sombras e as estátuas, sendo, portanto,
mais reais. Significa dizer que ele poderia contemplar a verdadeira realidade,
os seres como são em si mesmos. Não teria dificuldades em perceber que o Sol é
a fonte da luz que o faz ver o real, bem como é desta fonte que provém toda
existência (os ciclos de nascimento, do tempo, o calor que aquece etc.).
Maravilhado com esse novo mundo e com o conhecimento
que então passara a ter da realidade, esse ex-prisioneiro lembrar-se-ia de seus
antigos amigos no interior da caverna e da vida que lá levavam. Imediatamente,
sentiria pena deles, da escuridão em que estavam envoltos e desceria à caverna
para lhes contar o novo mundo que descobriu. No entanto, como os ainda
prisioneiros não conseguem vislumbrar senão a realidade que presenciam, vão
debochar do seu colega liberto, dizendo-lhe que está louco e que se não parasse
com suas maluquices acabariam por matá-lo.
Este modo de contar as coisas tem o seu significado:
os prisioneiros somos nós que, segundo nossas tradições diferentes, hábitos
diferentes, culturas diferentes, estamos acostumados com as noções sem que
delas reflitamos para fazer juízos corretos, mas apenas acreditamos e usamos
como nos foi transmitido. A caverna é o mundo ao nosso redor, físico, sensível
em que as imagens prevalecem sobre os conceitos, formando em nós opiniões por
vezes errôneas e equivocadas, (pré-conceitos, pré-juízos). Quando começamos a
descobrir a verdade, temos dificuldade para entender e apanhar o real
(ofuscamento da visão ao sair da caverna) e para isso, precisamos nos esforçar,
estudar, aprender, querer saber. O mundo fora da caverna representa o mundo
real, que para Platão é o mundo inteligível por possuir Formas ou Ideias que
guardam consigo uma identidade indestrutível e imóvel, garantindo o
conhecimento dos seres sensíveis. O inteligível é o reino das matemáticas que
são o modo como apreendemos o mundo e construímos o saber humano. A descida é a
vontade ou a obrigação moral que o homem esclarecido tem de ajudar os seus
semelhantes a saírem do mundo da ignorância e do mal para construírem um mundo
(Estado) mais justo, com sabedoria. O Sol representa a Ideia suprema de Bem,
ente supremo que governa o inteligível, permite ao homem conhecer e de onde
deriva toda a realidade (o cristianismo o confundiu com Deus).
Portanto, a alegoria da caverna é um modo de contar
imageticamente o que conceitualmente os homens teriam dificuldade para
entenderem, já que, pela própria narrativa, o sábio nem sempre se faz ouvir
pela maioria ignorante.
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ResponderExcluirO Mito é tido como verdade por causa da pessoa que a relata, um poeta escolhido pelos deuses, que lhe dirige a partir de visões sobre o passado que permite que a origem das coisas seja desvendada. Após algum tempo, as pessoas passaram a questionar a veracidade dos mitos contados pelos poetas, pois conseguiram perceber que as explicações dadas sobre a origem de todas as coisas eram contraditórias e limitadas. O mito apesar de ser um conceito não definido de modo preciso e unânime, constitui uma realidade antropológica fundamental. A filosofia surgiu para explicar racionalmente a origem e as transformações que ocorrem.
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